A Embaixada de Angola em Berlim
Fonte: A Embaixada de Angola em Berlim |

Japão e Angola de mãos dadas na cooperação

Japão tem desenvolvido, em Angola, vários projectos em áreas como desminagem, infra-estruturas, agricultura, educação e saúde

No âmbito das trocas comerciais, Angola importa daquele país mercadorias como veículos automóveis, aço, ferro e equipamentos

BERLIN, Alemanha, 27 de agosto 2019/APO Group/ --

Ao longo da última década, o Japão tornou-se num parceiro estratégico de Angola, onde tem reforçado a presença das suas empresas e financiado projectos em sectores-chave da economia, como o das telecomunicações.

Actualmente, o país asiático tem como principais activos na cooperação económica e bilateral com Angola a reabilitação e a expansão do Porto do Namibe, a recuperação de três fábricas têxteis e o financiamento para o lançamento do cabo de fibra óptica.

Além desses sectores, o Japão tem desenvolvido, em Angola, vários projectos em áreas como desminagem, infra-estruturas, agricultura, educação e saúde.

No âmbito das trocas comerciais, Angola importa daquele país mercadorias como veículos automóveis, aço, ferro e equipamentos, vendendo em troca, maioritariamente, petróleo e outras matérias-primas.

Um dos principais investimentos do gigante asiático foi a reabilitação do Porto do Namibe, que começou em 2007, com uma doação de USD 40 milhões.

O financiamento foi um gesto de comprometimento com os pactos assumidos, no quadro da TICAD, em apoiar a construção de infra-estruturas de qualidade em África.

O Porto Comercial do Namibe é a principal porta de entrada e saída de mercadorias para o Sul do país e o terceiro maior de Angola, depois do de Luanda e do Lobito (Benguela), construídos há 62 anos.

Na primeira fase de execução da modernização do Porto, foram reabilitados os primeiros 240 metros de cais, estando os mesmos, actualmente, em funcionamento nos termos de um contrato de concessão com a empresa Sogester.

O acordo entre os dois Governos contemplou a Empresa Portuária do Namibe com a reabilitação total do cais, com 480 metros de comprimento, dividido em duas fases. Os trabalhos da primeira fase foram concluídos em 2011.

A segunda fase do projecto de modernização do Porto do Namibe, iniciada em 2018 e concluída a 5 de Maio último, resultou de um acordo de doação avaliado em cerca de USD 20 milhões, assinado a 27 de Fevereiro de 2017 entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e o Instituto Marítimo e Portuário de Angola (IMPA).

A finalidade do acordo foi contribuir para o arranque da segunda fase da empreitada.

A par desses investimentos, o Japão voltou a mostrar o seu interesse no Porto do Namibe, ao anunciar, recentemente, que vai investir USD 600 milhões no projecto integrado de construção das infra-estruturas portuárias da Baía do Namibe.

Para o efeito, foi já assinado um contrato entre a Toyota Tsusho e o Banco do Japão para a Cooperação Internacional (JBIC, na sigla inglesa), que prevê a atribuição de uma linha de crédito de 70 mil milhões de ienes (600 milhões de dólares), necessários para o projecto portuário lançado pelo Ministério dos Transportes de Angola.

Caberá à empresa Nippon Export and Investment Insurance (NEXI) assegurar esse projecto, que comporta a expansão do Terminal de Contentores do Porto do Namibe e a reabilitação do Terminal de Minérios de Saco-Mar.

A empresa japonesa acredita que o projecto na bacia do Namibe, cuja conclusão está prevista para 2022, irá "reduzir a dependência de Angola do petróleo" e "reconstruir infra-estruturas afectadas pela guerra civil".

O projecto contribuirá para a criação de empregos, revitalização económica do Sul e diversificação de indústrias, além de potenciar o Porto para se tornar numa janela para a importação e exportação de países do interior" e de África, através da linha ferroviária.

O Terminal de Minérios de Saco-Mar foi construído em 1967, com o objectivo de exportar minério de ferro explorado nas minas de Cassinga, província da Huíla, tendo funcionado durante oito anos.

Em 1973, alcançou o seu valor mais alto de exportações, com 6,2 milhões de toneladas.

Funciona, actualmente, como o principal terminal de combustíveis e lubrificantes da petrolífera estatal Sonangol, na região Sul do país, e exporta, anualmente, 300 mil toneladas de derivados petrolíferos.

Dado o papel estratégico das infra-estruturas no desenvolvimento do Namibe e da região Sul, o Presidente João Lourenço autorizou, em Decreto Presidencial, o contrato de empreitada para o projecto Integrado da Baía do Namibe com o consórcio Toyota Tsusho Corporation e TOA Corporation, no valor global de USD 600 milhões.

O Chefe de Estado justificou a sua opção com a "necessidade de se garantir a continuidade e a concretização do programa do Governo, no que tange à diversificação das fontes de financiamento para a execução de projectos inseridos no Programa de Investimento Público e de outros programas e projectos de interesse nacional enquadrados no Plano de Desenvolvimento Nacional 2018 - 2022".

Desse valor, 400 milhões destinam-se à construção do novo terminal de contentores, com um cais de 288 metros, e 200 milhões para a recuperação do cais e Terminal Mineiro de Saco-Mar, a ser executado em 32 meses.

Após a conclusão das obras, o Terminal Mineiro de Saco-Mar poderá exportar o minério de ferro das minas de Cassinga, situadas na Jamba, província da Huíla, gerar receitas e promover o emprego, quer no Porto, quer nas minas em desenvolvimento, sendo um dos planos mais importantes do Governo angolano. 

O projecto, cujos trabalhos se iniciam em Setembro próximo, prevê a construção de um novo terminal de contentores do Porto Comercial e a reabilitação do Porto Mineiro de Saco-Mar e vai gerar mil e 500 postos de trabalho, num período de três anos.

Em contrapartida, a presença japonesa não fica apenas pelo sector portuário.

Em Março de 2016, o Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC) aprovou o financiamento para a empresa Angola Cables S.A, para a aquisição de equipamentos e serviços de empresas japonesas (NEC, OCC), que serviram para a execução do projecto de instalação de cabo submarino óptico no Atlântico Sul.

O empréstimo foi co-financiado com a Sumitomo Mitsui Banking Corporation (SMBC), com seguro comercial através da Nippon Export and Investment Insurance (NEXI).

O projecto é chave no sector das telecomunicações de Angola e África, representando o primeiro Cabo Submarino no hemisférico Sul, no Oceano Atlântico, que liga Angola e o Brasil, permitindo melhorar a conectividade do continente berço ao resto do mundo.

A Angola Cables é membro do consórcio do Cabo Submarino do Oeste de África (WACS) desde 2009, proprietária do cabo submarino de fibra óptica que liga a África do Sul ao Reino Unido, passando por várias estações ao longo da costa ocidental africana e portuguesa. Este projecto vai adicionar uma nova rota para o tráfego de dados, com a vantagem de tecnologia e capacidades modernas. 

No domínio da indústria têxtil, o Japão, com financiamento do JBIC, reabilitou, através da Marubeni, as três principais unidades têxteis do país: SATEC (Cuanza Norte), Alassola (Benguela) e Textang II (Luanda), no valor global de USD mil milhões.

A iniciativa criará novos postos de trabalho e contribuirá para diversificar a economia e substituir a importação, através da exportação do fio e produtos de algodão.

Angola busca novas áreas na TICAD

No âmbito da Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD), Angola está a preparar projectos em vários sectores, com destaque para das energias renováveis, saúde, ensino superior e formação técnico-profissional, agricultura, agro-indústria, finanças, turismo e novas tecnologias de informação e comunicação, para submeter ao Japão para financiamento.

Na TICAD VI, realizada em 2016, em Nairobi, Quénia, foram definidos os objectivos do Plano de Implementação da Declaração de Nairobi, onde são destacadas algumas áreas prioritárias, nomeadamente a promoção e a transformação estrutural da economia através da industrialização, o fomento de sistemas de saúde resilientes, a fim de melhorar a qualidade de vida e a promoção da estabilidade social.

O ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, considera crucial a implementação dos projectos apresentados por alguns países africanos e já aprovados pelo Japão, particularmente aqueles cuja concretização possa ter impacto e contribua para a integração económica regional.

A Agência de Cooperação Internacional do Japão, JICA, tem promovido a cooperação do Governo com Angola, nos mais variados sectores, através do apoio financeiro, transferência de tecnologia e formação humana, nos domínios da educação, saúde, agricultura, indústria, energia e infra-estruturas.

As relações políticas e diplomáticas entre Angola e o Japão foram estabelecidas em Setembro de 1976. As trocas de visitas de alto nível entre os dois países tiveram início no final dos anos 80.

Distribuído pelo Grupo APO para A Embaixada de Angola em Berlim.